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Infecção urinária: 11 perguntas e respostas sobre o problema em crianças

Febre, vontade de urinar o tempo todo, às vezes com dor, líquido turvo… Se você é mãe ou pai e nunca teve contato com algum desses sintomas, considere-se uma pessoa de sorte. A infecção urinária é mais frequente na infância do que se imagina

infecção urinária é considerada a contaminação bacteriana grave mais frequente entre os pequenos, responsável por cerca de 7% dos casos de febre sem sinais possíveis de serem localizados em lactentes (crianças que ainda mamam). Quem traz o dado é Maria Cristina de Andrade, coordenadora do Setor de Nefrologia Pediátrica da UNIFESP e da equipe de nefrologia pediátrica do Hospital Infantil Sabará (SP). Um estudo publicado no European Journal of Molecular & Clinical Medicine mostrou que, nos primeiros oito anos, é esperado que 7% das meninas e 2% dos meninos tenham, ao menos, um episódio.
 

Também chamada de infecção do trato urinário ou ITU, esse problema caracteriza-se pela multiplicação bacteriana em qualquer parte que o compõe, como rins, ureteres, bexiga e uretra. Para tirar suas dúvidas sobre essa doença em crianças, um time de especialistas dá respostas claras e objetivas sobre o tema. Confira:
 

1. Por que a infecção urinária ocorre e quais órgãos envolve?
 

A ITU acontece pela proliferação de bactérias patogênicas (que causam doenças) da urina. “Todas as que têm capacidade de crescer e se multiplicar rapidamente na urina podem causar o problema, destacando-se a Escherichia coli”, explica Maria Cristina de Andrade.

A bactéria chega até o sistema urinário por via ascendente (do canal da uretra para a bexiga e da bexiga para o rim) ou por via hematogênica (os micro-organismos caem na corrente sanguínea e viajam até as vias urinárias pelo sangue). “A infecção se estabelece quando ocorre falha ao urinar, propiciando a aderência da bactéria na parede que reveste o trato urinário, ou quando a criança prende o xixi, por exemplo, ocasionando paralisação de urina na bexiga e formação de resíduos. Isso facilita a colonização e a multiplicação bacteriana”, diz Maria Cristina.
 

A ITU pode ser classificada como alta e baixa. “Se ocorre na bexiga e na uretra, é chamada de baixa ou cistite. Se atinge o rim ou o caminho dos ureteres, é chamada de alta ou pielonefrite”, explica o pediatra Tadeu Fernandes, presidente do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
 

2. Como reconhecer que a criança está com o problema?
 

“Num primeiro momento, minha filha reclamou da ardência na hora de fazer xixi. Gritava de dor. Depois, tinha vontade de ir ao banheiro a toda hora. Levamos para o pronto-socorro e a infecção urinária foi diagnosticada”, conta a fisioterapeuta Carolina Fonseca, 39 anos, mãe da Clara, 9, que teve infecção aos 4.

De acordo com Maria Cristina de Andrade, os sintomas da ITU são variáveis, dependendo do local infectado, da intensidade do processo inflamatório e da idade. “Quanto menor a criança, mais inespecíficos são eles”, diz.

Basicamente, nas muito pequenas, os sinais mais comuns são febre, vômito, letargia, irritabilidade e alteração de cor e odor da urina, que fica mais escura e concentrada. Já nas maiores, urgência e dor para fazer xixi, dor abdominal e lombar, febre e sangue na urina são alertas.
 

3. Acontece em qualquer idade?
 

Segundo o pediatra Tadeu Fernandes, as infecções urinárias são mais frequentes nos extremos da vida. “Na primeira infância e na terceira idade. Lembrando que as gestantes também podem ser vítimas, porque o útero pressiona a bexiga. Mas pode ocorrer em qualquer fase da vida”, diz.
 

Maria Cristina destaca que, na literatura médica, o risco de desenvolver uma ITU nas crianças entre 1 mês e 11 anos está em torno de 1,1% para meninos e 3% para meninas. “Em menores de 3 meses, a prevalência é maior em meninos do que em meninas, sendo 8,7% e 7,5% respectivamente”, diz.
 

Bernardo Costa, 1 ano, teve infecção há poucos meses. “Ele brincou, mamou e dormiu. No meio da noite, começou a chorar e a vomitar. Fomos ao hospital. O diagnóstico demorou. Foi só na terceira vez que estivemos lá que o médico solicitou exames de sangue e urina e, então, soubemos que era infecção urinária”, conta a gestora ambiental Mariana Costa, 26 anos.

 

4. Crianças que usam fraldas têm risco de sofrer com a infecção urinária?


“Geralmente, as bactérias que contaminam o trato urinário são oriundas do intestino. Elas ficam na fralda e podem subir pelo canal da uretra e contaminar a via urinária”, afirma Fernandes.
 

De acordo com a nefropediatra Vera Hermina Kalika Koch, do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas/FMUSP, “manter a fralda suja por muito tempo não é nada bom. As fezes podem aderir tanto na uretra do menino quanto na da menina”, diz.

 

5. Há como prevenir?

Sim, com higiene local correta, um bom treinamento para a retirada da fralda, incentivo ao funcionamento do intestino por meio de hábitos alimentares saudáveis e o estímulo da ingestão de líquidos (para identificar se ela é adequada, observe a cor da urina. Ela deve estar sempre clara).
 

Sobre o treino para tirar a fralda, é essencial que o pequeno entenda o que é bexiga cheia e vazia. E urine com conforto. “A menina tem de se sentar, com as pernas a 90 graus e apoiar os pés no chão ou em um suporte. O assento deve ter tamanho adequado de forma que ela não sinta medo de cair no vaso e contraia o períneo. Isso porque, se fizer isso, vai urinar, de forma errada, prendendo parte do xixi”, explica Vera Koch.
 

6. É igual para meninas e meninos?
 

Em relação à anatomia, pode-se dizer que as meninas correm mais risco. “O canal da uretra delas é muito curto, coisa de poucos centímetros. Por isso, a infecção urinária é mais frequente na proporção de cerca de cinco a sete meninas para um menino”, explica Fernandes.

Um dos principais vilões da ITU em meninas tem a ver com a higienização. “A limpeza genital deve ser feita de frente para trás, nunca no sentido contrário, o que pode trazer bactérias para o canal urinário”, diz o pediatra. Outras causas frequentes são a retenção da urina e a constipação intestinal. A primeira pode ser explicada pelo acúmulo de urina na bexiga e a formação de resíduos que facilitam a multiplicação bacteriana. A segunda ocorre porque existe uma estreita relação entre o trato urinário e o intestinal, e o desequilíbrio de um dos sistemas pode afetar o outro.
 

Nos meninos, uma das causas frequentes é a falha na higiene. “Os que não fazem a circuncisão têm aquela pele que recobre a glande. Se, após urinar, sobrarem resíduos de urina entre a pele e a glande, podem evoluir para a infecção urinária”, diz Tadeu Fernandes.


7. Ela pode ser um sintoma de outra doença?
 

Pode. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia, no Brasil, de cada dez crianças que são tratadas com diálise (filtragem do sangue por meio de um equipamento) ou transplante de rim, cinco têm alguma doença cuja primeira manifestação foi infecção urinária.

 

8. Qual exame é fundamental para fazer o diagnóstico?
 

Segundo Fernandes, o padrão-ouro para o diagnóstico da infecção urinária é o exame de urina 1 com urocultura (que identifica a presença de bactérias na urina). “Não devemos tratar a doença sem a urocultura, porque ela vai nos dizer qual é o micro-organismo que está causando a infecção”, diz. “Ela é acompanhada de um exame chamado antibiograma, que seleciona a sensibilidade da bactéria a antibióticos”, explica.
 

9. Como é o tratamento?
 

Por meio de antibióticos. “A escolha é usualmente baseada no perfil microbiológico e de resistência da bactéria ao medicamento. A duração do tratamento depende da idade e do quadro clínico. Na terapia antimicrobiana eficaz espera-se melhora do estado geral e resolução da febre de 48 a 72 horas do início do tratamento”, afirma a nefrologista pediátrica Maria Cristina de Andrade.
 

10. Se não for bem cuidada, pode haver consequências?
 

Quando a bactéria adere ao tecido renal, multiplica-se e o destrói. Se a infecção não for bem cuidada, forma-se uma cicatriz. “Quando você faz um corte na pele, sobra uma cicatriz. No rim é a mesma coisa. A infecção vai destruindo o tecido renal – que não se regenera. A criança pode perder uma parte do órgão. Por isso, o diagnóstico precoce é importante. Assim que o antibiótico começa a atuar, ele faz com que o número de bactérias caia e as chances de formar uma cicatriz renal diminuam”, explica Vera Koch.
 

11. E quando a criança tem ITU recorrente?
 

“Julia teve infecção urinária dos 2 aos 6 anos. Chegamos a fazer um mapa para entender quais eram os meses de maior ocorrência da doença”, conta a mãe, a educadora física Amanda Serra, 46. A menina, hoje com 13 anos, não ficou com sequelas. Em casos como esse, a criança tem de ser avaliada por um nefrologista pediátrico e fazer um diagnóstico diferenciado.
 

“A maior parte das recorrências não é por má-formação. Em geral, o diagnóstico é de disfunção intestinal – o intestino constipado tem como espelho uma bexiga que não funciona direito e a expõe a todas as bactérias intestinais”, alerta Vera. Segundo Maria Cristina, estima-se que cerca de 80% das crianças com ITU recorrente apresentem sintomas compatíveis com disfunção vesico-intestinal. Para resolver a disfunção, é preciso tratar o intestino: evitar a constipação, incentivar a evacuação diária, inserir fibras na alimentação e aumentar a ingestão de água. Fisioterapia e medicamentos específicos podem ajudar.
 

Pontual ou recorrente, a infecção urinária merece atenção. Por isso, fique de olho em qualquer sinal diferente que seu filho dá ao fazer xixi, ainda que possa não parecer importante. Quando se trata da saúde dos pequenos, afinal, todo cuidado é pouco.

LINK DA MATÉRIA:
https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Saude/noticia/2022/09/infeccao-urinaria-11-perguntas-e-respostas-sobre-o-problema-em-criancas.html

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